Bleu
Profundo azul. Assim posso dizer da minha impressão sobre o filme "Trois couleurs: Bleu" ( em português "A liberdade é azul" ), primeiro filme da trilogia do diretor polonês Krzysztof Kieslowski, já falecido. Junto com "Trois couleurs: Blanc" ( "A igualdade é branca" ) e "Trois couleurs: Rouge" ( "A fraternidade é vermelha" ) as cores da bandeira francesa se formam remetendo-se aos ideais da Revolução do século XVIII.
Já ouvi dizer que o enredo não tem importância. Não sei ao certo, mas sem ele o sentimento não seria o mesmo. Talvez quem disse isso quis tirar o peso do happy ending que há na maioria dos enredos, principalmente estadunidenses. Mas de certa forma essa pessoa estava certa. Os pequenos acontecimentos e fatos completam a vida de Julie, a personagem principal interpretada por Juliette Binoche, e celebram os seus raros significados. Olhando assim o enredo não tem importância nenhuma. A verdade sobre o sentimento do filme é que Julie se vê sufocada pelo fato de sua filha e marido terem morrido num acidente automobilístico. Sua vida, que estava presa aos dois, se mostra tão sem sentido que ela tenta se suicidar não muito tempo depois do enterro. Ela resolve largar tudo para trás e viver longe do que lembrasse seus entes queridos. Porém ela não se sentia livre. A liberdade não era uma realidade em sua vida.
Mas o filme se mostra muito mais completo através de sua fotografia. Com um ritmo que seria execrado em Hollywood por sua lentidão, as cenas vão se abrindo num leque para mostrar o lado mais belo da situação. Há um certo abuso no uso do Plano Detalhe por parte do diretor, mas talvez isso traga uma certa curiosidade e período de reflexão a todos. Houve quem disse que os enquadramentos foram perfeitos. Não tenho certeza de tal coisa, mas o filme te prende e não te deixa dispersar o pensamento em momento algum. Mesmo contendo espaços para reflexão eles se davam dentro da temática do filme.
A trilha sonora vem completar a beleza da película. De forma muito marcante é usada a música para mostrar a angústia de Julie. Podemos dizer que as músicas se tornam uma personagem importante do enredo. Julie se vê em diversos momentos atormentada pela sinfonia que o marido estava encarregado de criar especialmente para o evento que marcaria a unificação da Europa.
A cor azul é outra "personagem". Diversas vezes presente ela é a cor do momento de Julie. As vezes se confundindo com a expressão que os ingleses usam para caracterizar tristeza, "I'm so blue".
" Quem não vê azul profundo
Não tem mais pra onde olhar " ( Trecho da música Santorini Blues, dos Paralamas do Sucesso )
Com certeza um filme para ser sentido e não só assistido.